Com o passar do dia, as provas classificatórias foram acontecendo, e a minha preocupação com o sol baixando foi aumentando. Eu não estava ali passeando ou curtindo com os meus amigos (apesar de ter encontrado e feitos alguns ali). Quando eu me disponho a tirar o meu equipamento de casa e arriscar ele (com a viagem, com o uso, com algum acidente) eu entro em modo de trabalho, e quando estou trabalhando, quero fazer o meu melhor.

Sabia que com a luz baixando, meu equipamento que já é limitado, não iria funcionar muito bem. Mas o que mais me incomodava na hora, era o fato de que tudo estava se encaminhando para corrida acontecer mesmo sem a luz natural. Não existia um plano B por parte da organização. Após a primeira bateria feminina, com tempo já reduzido pra tentar acelerar a prova, a luz natural terminou. Eu acho que a idade faz com que a gente comece a atentar pra outra coisas, o tal do "too old to die young". Talvez isso foi o que me fez ficar realmente preocupado com o prosseguimento da prova, ao contrário da organização.

Antes do início da segunda bateria, era pedido que as pessoas que estivessem de carro, virassem eles para a pista e acendessem os faróis. Tudo parecia muito surreal pra mim, eu aprendi cedo que a linha entre o heroísmo e a burrice é muito tênue. Pra mim heroísmo sempre foi ligado ao altruísmo, envolve você ser extraordinário em uma situação que envolve a busca pelo bem maior. Você não é herói ao arriscar algo só por que as pessoas falam "você não é foda? faz ai então" em troca de um "#mitou #bruto" nas suas redes sociais, você só é inconsequente mesmo.

Quando a organização autorizou o início das corridas, eu estava relutante em continuar fotografando ou não. As chances de um problema maior eram grandes, não era possível ver muita coisa, e existiam vários pontos de sombra na pista. Na minha fecal opinião, era uma irresponsabilidade tremenda permitir uma corrida nessas condições, mas ao que parecia a organização parecia bem amparada judicialmente pra caso algo acontecesse. Alguns atletas desistiram de correr, outros largaram mesmo assim, e Eu decidi que já que a situação estava fora do meu controle e eu não tinha mesmo nenhuma responsabilidade ali (apesar de fazer isso pensando com a cabeça de quem quer ver o esporte evoluir e não virar notícia em jornal popular da cidade) deveria parar de me preocupar, e comecei a fotografar para testar algumas coisas que eu tinha pensado nos últimos dias.

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